Nos últimos anos, seja devido ao isolamento ou por conta do retorno das atividades presenciais, um aumento nos quadros de sofrimento psíquico em Santa Maria foi registrado. Para lidar com a demanda, as estratégias envolveram desde o aumento no investimento em Política de Saúde Mental, que somando os repasses federais, estaduais e municipais chega a cerca R$ 3,7 milhões por ano, até a troca de conhecimentos entre profissionais das redes de Atenção Básica e Especializada para reconhecer os casos ainda na primeira etapa, que normalmente ocorre dentro das unidades de saúde.
Entre os serviços ofertados pela Rede de Atenção Psicossocial (RAP) do município, destaca-se o Santa Maria Acolhe. Criado em 2013, o espaço atende usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que apresentam quadros traumáticos e de luto, além de comportamento suicida. De 19 de janeiro de 2022 a 19 de janeiro de 2023, foram realizadas 4,4 mil consultas no local, sendo 1.603 atendimentos com médico psiquiatra e mais de 2,8 mil com a equipe composta por diversos profissionais. O serviço, que recebe o público em novo endereço desde outubro do ano passado, também contabiliza novos acolhimentos. No mesmo período, foram 448 pessoas.
Para a assistente social do Santa Maria Acolhe e profissional da saúde mental há 12 anos no município, Rizieri Buzzatte, uma das premissas para saber quando buscar ajuda profissional é perceber como você tem convivido com o sofrimento e o quanto isso interfere em seu cotidiano.
Nesta reportagem, veja como tem sido a demanda por atendimento de saúde mental em alguns serviços de Santa Maria, onde começa o acolhimento aos usuários e como funciona o fluxo de atendimento da Rede Municipal de Atenção Psicossocial.
O que é saúde mental?
Além do estado de bem-estar gerado no âmbito pessoal, a saúde mental conta fatores psicossociais, sendo um ponto de partida o contexto no qual o indivíduo está inserido e a forma como ele reage aos acontecimentos.
– Na saúde mental, um sinal de alerta é quando a pessoa muda um pouco a rotina de forma que a prejudique, que demonstre que ela está em sofrimento. Ela pode ter insônia, não conseguir mais se relacionar com outras pessoas. Não é o fator isolamento só, porque, às vezes, as pessoas querem ficar quietas e tudo bem. A questão laboral também é muito significativa. A pessoa sempre gostou de estar ali, trabalhando e, de repente, ela não consegue mais. Ou ela está em sofrimento em função do trabalho e isso causa uma crise de pânico – relata Rizieri.
A relevância de estar atento aos sinais e saber onde buscar ajuda profissional podem ser compreendidas a partir dos resultados de uma enquete criada no perfil de instagram do Diário de Santa Maria no dia 18 de janeiro deste ano. Dos mais de 190 participantes, 93% entendiam a saúde mental como de fato a existência de equilíbrio emocional, psicológico e social. Apesar disso, 59% dos participantes não conhecem os serviços da Rede de Atenção Psicossocial, o que pode eventualmente dificultar a procura por assistência. Sobre os serviços de saúde mental, 75% dos votantes afirmou não ter buscado atendimento na Rede, enquanto 25% sim.
– Qualquer um de nós pode ter um gatilho que cause um estado de sofrimento. Então, deve-se sim procurar ajuda – enfatiza a profissional.
Enquete
O Diário lançou uma enquete com algumas perguntas sobre saúde mental no dia 18 de janeiro. A ação foi realizada pelo perfil @diariosm no instagram. Veja o resultado:
Para você, o que é saúde mental?
Ter equilíbrio emocional, psicológico e social – 228 votos (93%)
É a ausência de doenças mentais – 16 votos (7%)
Número total de participantes – 244
Você conhece os serviços da Atenção Psicossocial de SM?
Sim – 79 votos (41%)
Não –115 votos (59%)
Número total de participantes – 194
Já buscou atendimento em algum dos serviços?
Sim – 48 votos (25%)
Não – 144 votos (75%)
Número total de participantes – 192
Acolhimento: da primeira consulta até atendimentos especializados
Foto: arquivo Diário
Assim como em outros fluxos, o centro da Rede de Atenção Psicossocial do município é formado pelos postos de saúde da Atenção Básica. Segundo Rizieri Buzzatte, que é mestre em Políticas Públicas e especialista em Gestão Pública, as Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e as Equipes de Atenção Primária (EAP) devem fazer o primeiro acolhimento ao usuário do Sistema Único de Saúde (SUS).
– A Atenção Básica recebe tudo, inclusive questões de saúde mental. Para depois encaminhar dali para a Atenção Especializada, na qual ficam os Centros de Atenção Psicossocial, os ambulatórios e as policlínicas – comenta a assistente social.
A partir disso, os agendamentos de consultas com psicólogos e psiquiatras para crianças, adolescentes e adultos são feitos via regulação municipal, possibilitando o encaminhamento de pacientes com casos leves a moderados para o ambulatório de saúde mental do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), que oferta mil consultas mensais, e as policlínicas José Erasmo Crossetti e a Municipal de Saúde Mental, ambas no Bairro Centro. O último serviço abriga também o Ambulatório Transcender, destinado à saúde da população LGBT+.
O Santa Maria Acolhe, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, também faz parte desta rede. De 19 de janeiro de 2022 a 19 de janeiro de 2023, foram realizadas 4.476 mil consultas no local, sendo 1.603 atendimentos com médico psiquiatra e 2.873 mil com a equipe composta também por psicólogos, assistentes sociais, enfermeira e residentes das área de saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Franciscana (UFN). O serviço, que recebe o público em novo endereço desde outubro do ano passado, também contabiliza novos acolhimentos. No mesmo período, 448 pessoas buscaram pela primeira vez atendimento no local.
Na medida em que quadros psiquiátricos moderados ou graves são constatados, as equipes de saúde têm a opção também de fazer encaminhamentos para os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). No contexto atual, Santa Maria conta com quatro unidades, sendo que as três primeiras foram habilitadas entre 2003 a 2005. São elas: o Caps II Prado Veppo, Caps ad Caminhos do Sol e Caps I O Equilibrista.Em 2011, foi inaugurado o Caps ad Cia do Recomeço, voltado ao atendimento de pacientes com histórico de abuso de álcool, drogas e outras substâncias.
– Os Centros de Atenção Psicossocial, pela legislação, são serviços de porta aberta como os postos de saúde, sendo de nível médio e especializado. Então, a pessoa pode chegar direto no Caps, que ela será ouvida e eles irão verificar se aquela demanda é para lá ou para outro serviço especializado – informa Rizieri.
Para prestar o atendimento em Santa Maria, os quatro Caps recebem, ao todo, um custeio federal mensal de R$ 144.776,25. O investimento chega a mais de R$ 1,7 milhão por ano.
Internação é a última saída
A Rede Municipal de Atenção Psicossocial é composta também por duas unidades de internação em saúde mental em Santa Maria, com leitos regulados pelo Estado. São eles: a Unidade Paulo Guedes, no Husm, e a Unidade Madre Madalena, no Hospital Casa de Saúde.Ambas contam com leitos divididos entre alas feminina e masculina, sendo que os encaminhamentos de pacientes para internação devem ser feitas a partir do sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares do Estado (Gerint).
Ressalta-se que a Unidade Paulo Guedes é referência para 45 municípios. E após a reabertura, em agosto de 2022, a Unidade de saúde mental Madre Madalena também passou a ser referência neste tipo de atendimento para os 33 municípios da Região Central.
Leitos
Assim como muitos profissionais da saúde mental que atuam nas etapas de acolhimento, Rizieri considera necessária a disponibilidade de leitos de internação em Santa Maria e região. Entretanto, a profissional busca enxergar o serviço em um fluxo, no qual este recurso é considerado a última opção:
– Acho que falar bastante sobre saúde mental ajuda as pessoas a perceberem o que está acontecendo com elas. Para não chegarem numa situação mais grave ou agravarem o sofrimento, a ponto de chegarem a uma internação. É preciso ter espaços de internação, sim, mas levando em consideração que falar sobre saúde mental é uma forma de promoção de cuidado, saúde e vida. Isso faz com a pessoa vá amenizando tamanho sofrimento, que ela não chegue em uma crise tão grande que se desorganize de tal maneira e precise já do estágio de internação. Isso para todas as particularidades e peculiaridades da saúde mental – afirma a assistente social.
Números
Unidade de saúde mental Paulo Guedes
161 internações de janeiro a dezembro de 2022
Unidade de saúde mental Madre Madalena
203 internações de agosto de 2022 a janeiro de 2023
Fontes: Assessoria de comunicação Husm e Tempórea Comunicação
Conheça os serviços
A Rede de Atenção Psicossocial em Santa Maria é composta por serviços com atendimento gratuito, que seguem um fluxo para melhor acolher as necessidades do usuário. São eles:
UNIDADES DE SAÚDE
Santa Maria conta com 25 Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e 20 Equipes de Atenção Primária.
Os encaminhamentos para serviços da Atenção Psicossocial devem ser feitos pelo médico clínico geral ou pela equipe de Enfermagem da unidade de saúde do seu território.
Pela regulação municipal
SANTA MARIA ACOLHE
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 17h, com exceção das quartas-feiras à tarde
Público – O serviço atende a população em geral, sendo maior de 14 anos
Endereço – Rua Conrado Hoffmann, 277, Bairro Nossa Senhora de Lourdes
Telefone – (55) 3219-2333 ou (55) 99164-4154
E-mail – [email protected]
AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL (HUSM)
São ofertadas mil consultas por mês. O encaminhamento é feito pela Secretaria Municipal de Saúde via Gercon
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
Público – Atende crianças, adolescentes e adultos
Endereço – Av. Roraima, 1000, Prédio 22, Bairro Camobi. Andar térreo do prédio anexo ao hospital. A entrada é em frente Turma do Ique.
Telefone – (55) 3213 1864
POLICLÍNICA MUNICIPAL DE SAÚDE MENTAL
Horário de funcionamento – De segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 17h
Endereço – Rua dos Andradas, sala 102, Bairro Centro
Telefone – (55) 3921-1094
No espaço, está localizado o Ambulatório Transcender, destinado a saúde da população LGBT+.
POLICLÍNICA JOSÉ ERASMO CROSSETTI
Horário de funcionamento – De segunda a sexta-feira, das 7h30min às 12h e das 13h às 16h30min
Horário de acolhimento – De segunda a sexta-feira, a partir das 7h30min. Pela tarde, nas segundas, quartas e quinta-feiras, a partir das 12h30min
Endereço – Rua Floriano Peixoto, 1.752, Bairro Centro
Telefone – (55) 3921-1097
CAPS I O EQUILIBRISTA
Serviço de referência para crianças e adolescentes com transtornos mentais, decorrentes ou não do uso de álcool e outras drogas. Assim como os demais, é um serviço público de atendimento diário com foco no tratamento e reinserção familiar, social e comunitária
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Endereço – Rua Conrado Hoffmann, 100, Bairro Nossa Senhora de Lourdes
Telefone – (55) 3921-7218 ou (55) 99148-5594
E-mail – [email protected]
CAPS II PRADO VEPPO
Serviço público de atenção diária voltado não só para o tratamento dos usuários com transtorno mental moderado e grave, mas também para a sua reinserção familiar, social e comunitária
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Endereço – Avenida Helvio Basso, 1.245, Bairro Duque de Caxias
Telefone – (55) 3921-7959 ou (55) 991652564
E-mail – [email protected]
CAPS ad CAMINHOS DO SOL
Serviço público de atenção diária voltado ao tratamento dos usuários com relação ao uso de álcool e outras drogas, visando a reinserção familiar, social e comunitária. Atende por território.
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Endereço – Rua Euclides da Cunha, 1.695, Presidente João Gouularta
Telefone – (55) 3921-7144 ou (55) 3921-7281
E-mail – capsadcaminhosdosol@011-747-470-30
CAPS ad CIA DO RECOMEÇO
Serviço público de atenção diária voltado ao tratamento dos usuários com relação ao uso de álcool e outras drogas, visando a reinserção familiar, social e comunitária. Atende por território.
Horário de atendimento – De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Endereço – Rua General Neto, 579, Bairro Centro
Telefone – (55) 3921-1099 ou (55) 99129-8326
E-mail – [email protected]
Rede de Urgência e Emergência (RUE)
SAMU
Presta o primeiro atendimento móvel ao paciente, encaminhando, conforme análise de gravidade do quadro, para os Pronto-Atendimentos ou para o Husm
Telefone – 192
Horário de funcionamento da Central Telefônica Samu em Santa Maria – 7h a 1h. A partir deste horário, a regulação é feita pela sede em Porto Alegre
UNIDADE DE PRONTO-ATENDIMENTO 24H (UPA)
Endereço – R. Ari Lagranha Domingues, 188, Bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Telefone – (55) 3028-9167
PRONTO-ATENDIMENTO RUBEN NOAL
Endereço – Avenida Paulo Noal, 80, Bairro Tancredo Neves
Telefone – (55) 32114-1006
PRONTO-ATENDIMENTO MUNICIPAL
Endereço – Avenida Jornalista Maurício Sirotsky Sobrinho, 70, Bairro Patronato
Plantão psiquiátrico – De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
Telefone – (55) 3223-9926 e (55) 3223-9927
Pela regulação do Estado
UNIDADE DE SAÚDE MENTAL PAULO GUEDES (Husm)
Leitos – 30 leitos divididos nas alas masculina e feminina
Internação – Via encaminhamento pelo Sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares (Gerint)
Contemplados – Cerca de 45 municípios da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e 10ª CRS
UNIDADE DE INTERNAÇÃO MADRE MADALENA (Casa de Saúde)
Leitos – 25 leitos divididos nas alas masculina e feminina
Internação – Via encaminhamento pelo Gerint
Contemplados – 33 municípios da 4ª CRS
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